terça-feira, 19 de março de 2013

Ciclo sobre Conflito Israel - Palestina: sucesso de público no Jiló na Guela. Grandes filmes, grandes debates.

A exibição de "Roadmap to Apartheid", no domingo passado, confirmou uma tendência: o Ciclo de documentários sobre o conflito israelo-palestino tem atraído grande público, recorde nas sessões do Jiló, que, a propósito, está prestes a completar 1 ano (a primeira sessão foi realizada em 15 de abril de 2012, com o igualmente polêmico filme de Pino Solanas, "Memórias do Saque").

O grande público registrado no mês de março corrente demonstra como o conflito entre Israel e Palestina é objeto de interesse na sociedade brasileira e revela a relação que temos com a disputa, geograficamente distante, mas emocionalmente próxima. Não podemos esquecer a enorme influência da ascendência sírio-libanesa e judia na formação do povo brasileiro. Nem o envolvimento brasileiro em momentos cruciais da geopolítica do Oriente Médio, como a criação do Estado de Israel, quando o brasileiro Osvaldo Aranha presidia a Assembleia Geral da ONU.

Um dos pontos mais suscitados no debate realizado após a exibição do filme foi a relevância de se ter acesso a conteúdos audiovisuais que, além de fugirem do filtro da grande mídia, apresentam o conflito em toda a sua complexidade, deixando de lado os enfoques maniqueístas que geralmente são utilizados para tratar do assunto. Também foi saudado o fato de se poder ter acesso a visões particulares do conflito (essa observação refere-se principalmente ao filme "5 Broken Cameras", exibido na primeira sessão do ciclo), em contraposição ao enfoque estatal / geopolítico, que muitas vezes desumaniza o sofrimento das pessoas de verdade, que enfrentam dificuldades diárias, por conta de decisões tomadas em Gabinetes distantes.

O filme do último domingo, "Roadmap to Apartheid", deu o que falar. A analogia da situação atual em Israel/Palestina com a África do Sul do apartheid mostrou-se uma tese que, apesar de polêmica, confere um instrumental de análise válido para compreender o conflito atual. Muito se debateu sobre o caminho sul-africano para enterrar o vergonhoso regime de segregação, bem como sobre possíveis soluções para o conflito israelo-palestino, com ênfase nas soluções de um estado ou de dois estados. Sobre esse aspecto, o filme também suscita reflexões. A tese de "Roadmap" é de que a criação do Estado palestino, atualmente, é inviável, em decorrência das centenas de assentamentos judaicos estabelecidos na Cisjordânia e mesmo em Jerusalém Oriental. Na África do Sul sob o apartheid,  pretendia-se justamente que os bantustões fossem enclaves independentes, sobre os quais o governo de Pretória não teria qualquer responsabilidade, mas total controle. No entanto, por pressão interna e internacional, o que se viu na África do Sul, a partir de 1994, foi a incorporação dos bantustões, com a criação de um Estado único, multiétnico e sem discriminação legal. Terá a África do Sul algo a ensinar a Israel?



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